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Caxias do Sul,25/06/2025

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Por que relacionamentos saudáveis parecem entediantes para muita gente?

Fonte: Isabelly Mendes
Por que relacionamentos saudáveis parecem entediantes para muita gente? Foto Freepik
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Vivemos em uma era em que o “intenso” virou sinônimo de “interessante”. Em meio a filmes românticos dramáticos, redes sociais que promovem idealizações e uma cultura que romantiza o sofrimento amoroso, não é difícil entender por que tanta gente confunde caos com paixão. Relacionamentos saudáveis, por sua vez, acabam sendo rotulados como “sem graça”, “parados” ou “sem emoção”. Mas por que isso acontece? O que faz com que o equilíbrio, o respeito mútuo e a paz pareçam desinteressantes para tantas pessoas?

O vício na montanha-russa emocional

Muitos cresceram em ambientes onde o amor era instável, imprevisível ou condicionado. Essa bagagem emocional cria um padrão: a associação de amor com adrenalina, dúvida, dor e reconciliação. Assim, quando alguém se depara com um relacionamento estável, em que não há brigas frequentes ou demonstrações exageradas, pode experimentar uma espécie de “abstinência emocional”.

A ausência de picos e vales emocionais — comuns nos relacionamentos tóxicos — pode ser confundida com tédio. Isso acontece porque o cérebro, acostumado à descarga de dopamina que vem com o ciclo de drama e reconciliação, estranha o equilíbrio. O “drama” se torna uma droga emocional. O amor tranquilo, por outro lado, parece morno, quando na verdade é saudável.

A idealização do amor romântico

Desde cedo somos bombardeados com narrativas de amor intenso, conturbado, cheio de obstáculos e reviravoltas. Filmes, novelas e músicas reforçam a ideia de que o amor verdadeiro precisa ser sofrido para ser real. Poucos roteiros mostram relacionamentos baseados em comunicação aberta, respeito aos limites e parceria diária — afinal, esse tipo de história não vende tanto quanto um escândalo amoroso cheio de traições, ciúmes e reconciliações apaixonadas.

Esse imaginário coletivo molda o que muitas pessoas esperam da vida amorosa. Assim, quando encontram alguém que oferece tranquilidade, comprometimento e segurança, sentem falta do “frio na barriga” — mesmo que esse frio tenha vindo, no passado, de situações disfuncionais.

Trauma não resolvido e autossabotagem

Relacionamentos saudáveis podem colocar a pessoa frente a frente com suas próprias feridas emocionais. Quando alguém está acostumado a ser desvalorizado ou a correr atrás de atenção, ser tratado com carinho constante e genuíno pode gerar desconfiança. “Isso é bom demais pra ser verdade” ou “em algum momento ele(a) vai mostrar quem realmente é” são pensamentos comuns de quem carrega traumas não resolvidos.

Nessas situações, o relacionamento saudável pode parecer “errado” simplesmente porque não ativa os gatilhos emocionais aos quais a pessoa está acostumada. Isso pode levar à autossabotagem: provocar conflitos desnecessários, duvidar do parceiro ou até romper a relação em busca da velha e conhecida bagunça emocional que, paradoxalmente, parece mais familiar — e portanto, mais confortável.

A ilusão do “fogo constante”

Outra armadilha é a crença de que um relacionamento saudável precisa manter a mesma intensidade da paixão inicial. No começo, tudo é novidade: as conversas, os toques, os encontros. Com o tempo, a relação se transforma — e isso é natural. Amor maduro não se alimenta de euforia constante, mas de cumplicidade, presença e construção diária.

Infelizmente, essa transição do “fogo” para o “acolhimento” é muitas vezes vista como um sinal de esfriamento, quando na verdade é sinal de maturidade emocional. O problema é que muitos confundem essa nova fase com desinteresse, quando o que está acontecendo é apenas o desenvolvimento de uma conexão mais profunda e duradoura.

A paz exige maturidade

Relações saudáveis são construídas com paciência, responsabilidade afetiva e empatia. Não envolvem joguinhos, chantagens emocionais ou a constante sensação de estar “pisando em ovos”. Mas para muitas pessoas, esse tipo de amor exige mais do que estão dispostas (ou preparadas) a oferecer.

A paz em um relacionamento exige maturidade: é preciso abrir mão do ego, comunicar-se com clareza, ser vulnerável e confiar. E tudo isso pode ser assustador para quem sempre viveu na defensiva. É mais fácil culpar o parceiro pelo “tédio” do que encarar as próprias inseguranças.         fikante

Conclusão

Relacionamentos saudáveis não são entediantes — são, na verdade, curadores. Mas para que alguém os valorize, é preciso desconstruir crenças, curar feridas e entender que amor não é sinônimo de sofrimento. A verdadeira emoção está em construir algo sólido, onde há espaço para crescer juntos, e não em viver uma eterna montanha-russa de altos e baixos.

Talvez o que pareça "sem graça" seja apenas o que a pessoa nunca teve antes: estabilidade, respeito e segurança. E reconhecer isso já é um passo importante para deixar de lado as fantasias do amor turbulento e abrir espaço para relações mais leves, reais e transformadoras.


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